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Desobediência civil aumenta e registra seis novas mortes no Iraque

Seis manifestantes foram mortos, neste domingo, no sul do Iraque, onde a desobediência civil está crescendo em face de um governo intransigente em relação ao mais importante movimento de contestação da história recente do país. No primeiro dia da semana no Iraque, um anúncio do governo provocou a retomada da mobilização. O ministério da Educação havia decidido que as aulas deveriam ser retomadas após quase dois meses de manifestações que mataram quase 350 pessoas e um mês sem aulas em muitas cidades do sul.

Mas nada foi feito para os manifestantes que exigem uma reforma do sistema político e uma renovação completa de uma classe dominante considerada corrupta, incompetente e leal ao grande vizinho iraniano. “As ameaças das autoridades não nos assustam. Eles podem cortar nossos salários. Todos os nossos salários juntos nada pesam em comparação com uma gota de sangue daqueles que caíram manifestando-se”, disse Salem Hassan, em Amara (sul). “Não podemos continuar em silêncio diante da barbárie das autoridades e do tempo que levam para satisfazer nossas reivindicações”, reclamou.

Esta manhã em Nassiriya – onde três manifestante foram mortos em confrontos com as forças de ordem – nenhuma escola abriu e a maioria das administrações públicas estava fechada, assim como em Hilla, Najaf, Kut, Amara e Basra, constataram correspondentes da AFP. Ainda em Nassiriya, reduto da revolta, os manifestantes bloqueavam cinco pontes, bem como o acesso à companhia pública de petróleo e a um campo petrolífero. Na província petrolífera de Basra – onde três manifestantes foram mortos de acordo com a Comissão de Direitos Humanos do governo – as principais estradas também foram cortadas, apesar das tentativas de dispersão com munição real, segundo um correspondente da AFP.

Confrontos ocorreram durante a noite na cidade sagrada xiita de Kerbala. Lá, manifestantes disseram à AFP que a polícia jogou “coquetéis molotov nas casas e disparou munição real depois da meia-noite”.

Orçamento

Desde 1º de outubro, os iraquianos estão nas ruas no primeiro movimento social espontâneo desde a invasão americana que derrubou o ditador Saddam Hussein em 2003. Seu principal ponto de encontro é a Praça Tahrir de Bagdá, ocupada dia e noite, e pontes adjacentes e ruas comerciais que se tornaram campos de batalha no coração da segunda capital mais populosa do mundo árabe.

Lá, dez manifestantes foram mortos nos últimos três dias. “Não vamos sair daqui”, advertiu novamente neste domingo um manifestante em Tahrir. “Basta! Eles precisam se retirar e estamos prontos para ficar aqui por dez anos”, acrescentou outro. Os manifestantes exigem empregos para os jovens – um em cada quatro desempregado – e uma melhoria nas condições de vida de 20% da população que vive abaixo da linha da pobreza. O governo propõe apenas reformas limitadas: uma nova lei eleitoral que patina no Parlamento e uma remodelação parcial do gabinete anunciada há semanas, mas que só serviria para se livrar de alguns sem mudar a face do poder, de acordo com especialistas.

O primeiro-ministro Adel Abdel Mahdi disse que a prioridade agora era a votação do orçamento para 2020. Baseando-se quase inteiramente nas receitas do petróleo, esse orçamento é há anos o principal garantidor da paz social em um país devorado pelo clientelismo. Mas com um terço do orçamento de US$ 111 bilhões em 2019 destinado aos salários dos funcionários públicos, os economistas dizem que o de 2020 deverá explodir, porque o governo anunciou milhares de contratações para tentar conter a contestação.

Fonte:Correio do Povo

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